Trilce LXII, por Jussara Salazar

 

Vallejo & Co. presenta el siguiente texto como anticipo a la futura aparición de Sien en Trilce, publicación de homenaje por los 100 años del poemario Trilce (1922) de César Vallejo, que será publicado próximamente por la revista Mar con soroche (Santiago / La Paz) y Vallejo sin fronteras Instituto (Lima), con la colaboración de Caesura Magazine y Vallejo & Co.

 

 

Por Jussara Salazar*

Crédito de la foto (izq.) Rev. Mar con soroche /

(der.) www.poemargens.blogspot.com

 

 

Trilce LXII

[Jussara Salazar (Brasil)]

 

 

gigantomaquia

 

 

i
                                Ah no Pérgamon as cabeças não se movem. Brancas, arenosas, pétreas. Zeus tem os olhos fixos brilhando para um futuro que não virá. Porque as cabeças de Pérgamon deixaram para trás um corpo perdido. Esses corpos foram encontrados e agora estão ali. São muitos pedaços como atores de um teatro pós-apocalíptico

Primeiro o escavador descobriu alguns torsos e mãos. Depois vieram as pernas, os pés e muitos braços. Fragmentos vivos na memória de mutilações e guerras. Brilham agora como destroços no grande parque de corpos dependurados. Um amontoado de corpos sem ossos. Sem nervos. Gloriosos, expõem-se como puzzles, encaixes na tentativa de provar que foram corpos íntegros. Corpos com carne.

 

Por isso se desorganizaram e brotam das paredes como fissuras sem agonia. Exibem-se. São raízes subindo, descendo sua nudez decepada. Seu sexo clássico. Suas cabeças degoladas. Suas cabeleiras espessas. Suas mãos inúteis e pés cristãos.

 

 

ii

Para descrever esses corpos é preciso uma fração de segundo. Deuses se transformam. Não se repetem em sua luta para sobreviver. Já são sobreviventes. Porque não sobreviveram. E flutuam sem memória alguma. Dispersaram-se. São entulhos do pós-guerra. Corpos desenterrados que o capim não cobriu. E por isso a desordem. E enquanto morrem os animais esses corpos flutuam. São corpos sem peso que testemunham as nossas lembranças. Sem espasmos.

Silenciosamente.

Sem nenhuma dor

 

 

iii

Um zumbido pancrônico anuncia: os deuses chegaram. Aparelhados agora são corpos em movimento. Antena nos dedos, nadam como peixes no grande aquário humano. As máscaras, os músculos, brilham nas paredes do túnel. Vasculham a área. Ideogramas brilham sob o anúncio. A forma: uma papoula? Azul. Klein. Um blues sequer não há nem god save the queen. Nem pássaros. Mas os flashes estalam sobre os corpos. Coxas. Ruídos. Noé embriagado. Luz e trevas. Um braço de fiberglass. As sibilas e os profetas apontam para o céu. A terra arde numa festa de corpos.

 

 

 

 

 

*(Pernambuco-Brasil, 1959). Poeta, escritora y artista visual. Magister en Estudios Literarios por la Universidad Federal de Paraná (Brasil) y doctora en Comunicación y Semiótica por la PUC / São Paulo (Brasil). Ha publicado en poesía Inscritos da casa de Alice (1999), Baobá, poemas Leticia Volpi (2002), Natalia (2004), Coraurissonoros (2008), Carpideiras (2011), O gato de porcelana, o peixe de cera e as coníferas (2014) y Fia (2016).

 

 

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