El tedioso sonar de las víboras. 9+1 poemas de Marcelo Dolabela

 

Por Marcelo Dolabela*

Curador de la muestra Fabrício Marques

Traducción al español por Maíra Buarque

Crédito de la foto Glória Campos

 

 

El tedioso sonar de las víboras.

9+1 poemas de Marcelo Dolabela

 

 

Los sicómoros de Amós

 

Amós todavía cultivaba sicómoros

……..y plátanos

……..en la sequedad del suelo

……..cercano al desierto

 

Y el viejo profeta cambiaba

……..castigo por trasgresiones

 

Al fin de la guerra

……..solamente 6 niños sobrevivieron

……..y cada uno

……..conocía ya su destino

 

La vida sigue yéndose

 

Y los sicómoros y los plátanos de Amós

……..no crecen lo suficiente

……..y ni sus hojas

……..dan buen pergamino

 

Un papel cualquiera

……..serviría para registrar

……..este texto.

 

………..[Belo Horizonte, 9/10/11-12-1993]

 

 

 

La última visita de las tres parcas

 

“espérate en tu catre

tu misal de esclavo

tu carne carcomida

ya no alimenta los gusanos”

 

I

 

No oigo el cielo

de laca podrida y poro purpúreo

me dicen que vienes

con tu boca hambrienta

en arrobos de carmesí

sobre la angustia de nuestros días

 

 

II

 

Párate viajante de estas urbes grises

tus derechos no pagan tus dolores

oiga por última vez la campana sucia de musgo

que vaticina tu destino

 

el vellocino de oro

que recoge las almas de este mundo

ya casi completo

espérate a la puerta

para tu último viaje…

 

Todavía no pagaste tus deudas

tus errores y tus dolores

tu valija no tendrá espacio para tanto

 

…quisiste tener rumbo

que tu voz fuera oída

 

Ahora ya

date prisa

el vellocino de oro seguirá

sordo en su sordo viaje…

 

 

A manera de Benedeto Croce

 

El mundo,

……..………Señora Dacier,

……..sírvenos

……..la espeluznante papilla negra

……..espartana.

 

La vieja sabiduría

……..no nos

……..ha preparado para tanto.

 

…………[1995]

 

 

 

Safo & Phaon # 1

 

ahora que la vida acoge y

…………….traga caos y leyes

….la poesía más que nunca

…………….más que siempre se exilia

….en la vainilla esencial de la angustia

la paz intemporal chorrea

…………….del cántaro de la barbarie el dolor

atada al casco de la embarcación

…………….azotea la languidez del temporal.

 

………..[1995]

 

 

 

ganar el pan con la sangre de la angustia

 

….ganar el pan con la sangre de la angust

ia

….bajo la herida de la mayor-val

ia

….donde ni la prop

ia

….rima sirve para la poes

ía

 

……….[1996]

 

 

blowin’in the wwwind # 17

 

amor inconfesable y apasionado amor!

el cansado sol renovase

el infierno suéltame de las manos

como pound – viejo – vengo proponerte también un pacto

de las incendiarias frases de sun tzé

a las petrificadas frases del tao te-king

un pacto silencioso silenciosa agonía de las guerras

y quien sabe sabemos mañana

ni iessiênin ni vladímir han de sentir el frío sudor en la datcha

abandonados sabemos como

el dinamo de la usina hace el agua herrumbre

un pacto que déjenos redivivos

v.illich y guy deb.

alguien se recusará

alguien preferirá sabemos el tedioso sonar de las víboras

dejemos sé sabemos

el nuestro pacto hace mucho herido arado

en la sangre inconfesable de estos versos

 

“bajo las intemperies”

ah “el coraje de los que sufren”

el curvar neptúnico de los anzuelos

el no-cegar

bajo la ciega luz de los faroles

el no-naufragar

en el salado eterno joven mar

el hambre de las llamaradas

el agónico nombre del aire

el mueble sólo sellado al sol

la indiferencia

el olvidarse

“los que mueren saludan

………..los que no van a morir?”

 

 

 

Las lágrimas amargas de la felicidad

 

tú, yo

sé, tú no existes

en tus fibras y

en tus fimbrias

en tus ficciones y

en tus fiebres

ciego, escapo de tus pasos

y, en toda parte

tú me persigues

letras prisioneras

de un diccionario

por toda parte –

tú, yo

sé, no existe – y

me persigue

 

 

 

Cacografía # 10

 

falta en la pagina

………la línea del olvido

volver sobre los propios pasos

………a cada palabra

 

ver en el otro

………el defecto nuestro

………la gula

…………..……el abundante almuerzo

 

esta patria

………ya no es

………un trozo de este mundo

aquella basura

………aquella ley

………estos montes inmundos

 

el corazón ya no cabe

………en los destrozos del mundo.

 

El poeta Marcelo Dolabela leyendo.

 

Cacografía # 11

 

en pensamiento

en cuantas frases

se basta la ausencia

se adelanta

se compensa

esta distancia

piensa

en este momento

 

 

 

Cacografía # 12

 

……………la tierra se termina en

agua

……………venus sale del

agua

……………el hombre camina sobre el

agua

……………la letra dibuja en la

……………página una marca de

agua

 

 

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(poemas en su idioma original, português)

 

El poeta Marcelo Dolabela.

O tedioso sonar das víboras.

9+1 poemas do Marcelo Dolabela

 

 

Os sicômoros de Amós

 

Amós ainda cultivava sicômoros

………e plátanos

………na aridez do chão

………próximo ao deserto

 

E o velho profeta trocava

………castigo por transgressões

 

Ao final da guerra

………apenas 6 crianças sobreviveram

………e cada uma

………já conhecia seu destino

 

A vida segue se exaurindo

 

E os sicômoros e os plátanos de Amós

………nunca crescem o suficiente

………e nem suas folhas

………dão bom pergaminho

 

Qualquer papel

………serviria para registrar

………este texto.

 

………[Belo Horizonte, 9/10/11-12-1993]

 

 

 

A última visita das três parcas

 

«te espera em teu catre

teu missal de escravo

tua carne carcomida

já não alimenta os vermes.»

 

I

 

Não ouço o céu

de laca podre e poro púrpuro

dizem-me que vem

com sua boca faminta

em lufadas de carmesim

sobre a angústia de nossos dias

 

 

II

 

Alto lá viajante destas urbes cinzas

teus direitos não pagam tuas dores

ouça pela última vez o sino sujo de musgo

que vaticina teu destino

 

o velocino de ouro

que recolhe as almas deste mundo

já quase completo

te espera à porta

para tua última viagem…

 

Ainda não pagastes tuas dívidas

teus erros e tuas dores

tua valise não terá espaço para tanto

 

…quisestes ter rumo

que tua voz fosse ouvida

 

Agora já

apressa

o velocino de ouro seguirá

surdo em sua surda viagem…

 

 

À maneira de Benedeto Croce

 

O mundo,

………………Senhora Dacier,

………nos serve

………a horrenda sopa negra

………espartana.

 

A velha sabedoria

………não nos

………preparou para tanto.

 

……….[1995]

 

 

Safo & Phaon # 1

 

agora que a vida acolhe e

engole caos e leis

………a poesia mais do que nunca

mais do que sempre se exila

………na baunilha essencial da angústia

a paz atemporal jorra

do cântaro da barbárie a dor

presa ao casco da embarcação

………chicoteia a languidez do temporal.

 

……….[1995]

 

 

 

ganhar o pão com o sangue da angúst

 

ganhar o pão com o sangue da angúst

ia

sob a ferida exposta da mais-val

ia

onde nem a própr

ia

rima serve pra poes

ia

 

……….[1996]

 

 

blowin’ in the wwwind # 17

 

amor indizível e apaixonado amor!

o cansado sol se renova

o inferno solta-me das mãos

como pound – velho – venho propor-te também um pacto

das incendiárias frases de sun tzé

às petrificadas verdades do tao te king

um pacto silencioso silenciosa agonia das guerras

e quem sabe sabemos amanhã

nem iessiênin nem vladímir sentirão o frio suor na datcha

abandonados sabemos como

o dínamo da usina faz da água ferrugem

um pacto que nos deixe redivivos

v. illich e guy deb.

alguém se recusará

alguém preferira sabemos o tedioso sonar das víboras

deixemos sei sabemos

o nosso pacto há muito ferido arado

no sangue indizível destes versos

«sob as intempéries»

ah «a coragem dos que sofrem»

o vergar netúnico dos anzóis

o não-cegar

sob a cega luz dos faróis

o não-naufragar

na salgado eterno jovem mar

a fome das labaredas

o agônico nome do ar

o móvel solo selado ao sol

a indiferença

o esquecer

«os que morrem saúdam

………..os que não vão morrer?»

 

 

 

As lágrimas amargas da felicidade

 

você, eu

sei, você não existe

em suas fibras e

em suas fímbrias

em suas ficções e

em suas febres

cego, fujo de seus passos

e, em toda parte

você me persegue

letras prisioneiras

de um dicionário

por toda parte

você, eu

sei, não existe – e

me persegue

 

 

 

Cacografia # 10

 

falta na página

……….a linha do esquecimento

voltar sobre os próprios passos

……….a cada palavra

 

ver no outro

……….o defeito nosso

……….a gula

……………….do farto almoço

 

esta pátria

……….já não é

……….um pedaço desse mundo

aquele lixo

……….aquela lei

……….este monturo imundo

 

o coração já não cabe

……….no destroço do mundo.

 

Cacografia # 11

 

em pensamento

em quantas frases

se basta a ausência

se adianta

se compensa

esta distância

pensa

neste momento

 

 

 

Cacografia # 12

 

a terra acaba em

água

……..vênus sai da

água

……..o homem anda sobre a

água

……..a letra desenha na

……..página uma linha d’

água

 

 

 

 

 

 

*(Minas Gerais-Brasil, 1957). Poeta, compositor e investigador musical y lírico. Magíster em Comunicación por la Universidad São Marcos (Brasil). Se desempeña como profesor. Ha publicado en poesía Coração malasarte (1980), Radicais (1985), Hai kaixa (1993), Poeminhas & outros poemas (1998), Lorem ipsus – Antologia poética & outros poemas (2006), Acre Ácido Azedo (2016); en ensayo ABZ do rock brasileiro (1987), Breve história da música de Belo Horizonte (1993), entre otros. En 2012, realizó la exposición A história do rock brasileiro em 1000 discos, y en 2014, las exposiciones 50 discos que você precisa ouvir para entender o Golpe Militar (1964-1985) y Rock no circuito.

 

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*(Minas Gerais-Brasil, 1957). Professor, poeta, compositor e pesquisador (música e poesia). Mestre em comunicação pela Universidade São Marcos (Brasil). Principais livros: Coração malasarte, 1980. Radicais, 1985. ABZ do rock brasileiro, 1987. Breve história da música de Belo Horizonte, 1993. Hai kaixa, 1993. Poeminhas & outros poemas, 1998. Lorem ipsus – Antologia poética & outros poemas, 2006. Acre Ácido Azedo, 2016. Realizou, em 2012, a exposição A história do rock brasileiro em 1000 discos. E, em 2014, as exposições: 50 discos que você precisa ouvir para entender o Golpe Militar (1964-1985) e Rock no circuito.

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