Por Jovino Machado*
Traducción del portugués al español por Josep Domènech Ponsatí
Curador de la muestra Fabrício Marques
Crédito de la foto Fábio Cançado /
www.otempo.com.br
Si mi corazón no basta.
13 poemas de Jovino Machado
Janaina
su belleza
es irlandesa
su boca
es francesa
su mirar
es mar
más bella
cada mañana
su nariz
es italiana
su alma rojiza
aúlla a la vida
lujuria desnuda
aquella cara
que ella hace
en el momento del amor
aquella mirada-neblina
cuando ella fuma
el primer cigarrillo
en la terraza del piso catorce
aquella sonrisa-mona lisa
aquel humo blanco
aquel suspiro
contemplando
la madrugada de são paulo
aquella carcajada
después de la primera copa
aquellos pies
esculpidos por miguel ángel
hechicera de mi poesía
macumbeira de mi deseo
aquel cabello
que rubio o negro
duerme cayendo
hacia el lado vagabundo
de mi corazón izquierdo
Janaina 2
después del amor
ella se quedaba en la cama
desnuda
comiendo guayabas
y tirando la corteza
a un perro bizco
llamado belchior
después del sexo
ella se quedaba en la cama
mojada
fumando
y tirando la ceniza
en un cenicero verde
que compró en el norte de españa
después de correrse
ella se quedaba en la cama
satisfecha
bebiendo un burdeos
y leyendo los poemas pornográficos
que su poeta escribió
para el diario de la orgía
Antes del salto
delicadamente
ella me pisa
el pecho
sus lirios líricos
besan
mis pezones
su talón
rosado
se desliza por la lengua
antes del salto
Serenata
su sudor es suave sereno
sagrario saliva serenata
sus senos son simientes
saetas y sinvergonzonerías
sus sobacos son sonatas
secretos saraos sabores
sus medios son secretos
sangre y selva satánica
su sonrisa es siembra
soltura sol sacramento
su saya es sacudida
sirena sadismo silencio
su sudor es suave sereno
Trasplante
si mi corazón no basta
te doy mi risa y mi riñón
si mi corazón no basta
te doy mi hígado y mi pulmón
si mi corazón no basta
te doy mis ojos y mi mirada
¿lo coges o lo dejas?
Película romántica
devuélveme las mañanas de abril
que te llevaste
devuélveme las tardes de mayo
que te llevaste
devuélveme las noches de junio
que te llevaste
no hace falta que me devuelvas el viento
La divina comedia
no voy a mandarte al cielo
cae nieve después de la lluvia azul
y tú sientes mucho frio en los pies
no jazz después de las estrellas
sé que no te gusta bailar samba
no voy a mandarte al infierno
cae luz después del arco iris
y tu aburrimiento no iluminará
las faldas cortas de las bellas pecadoras
no voy a mandarte al infierno
cae fuego después de las tempestades
y tu deseo no es buena leña
para las monstruosas hogueras
no voy a mandarte al infierno
porque siento lástima del demonio
tu destino es el purgatorio
Educación sentimental
cómo abortar un amor
no es una lección
que pueda estudiarse
en biología
pero puede apreciarse
en cualquier antología
Cind
amo a dios
a pesar de los dolores
amo al diablo
a pesar de los amores
te amo a ti
sin ningún pesar
Nocturna
ave maría
llena eres de gracia
eres cind la muchacha
que viene y que pasa
en dulce balanceo
camino del bar
color de cadáver
el humo del cigarrillo
no esconde tu belleza
tu tristeza no se ahoga
en el vaso de cerveza
tu mirada es un fantasma
que, regateando, oscila
entre el poste y el gol
en tu sonrisa
veo que posees
solo lo que te falta
mi manera borracha de ser
me da miedo ser atropellado
con una lata de cerveza en la mano
pero no sería bueno
para mi biografía
ser atropellado
sin una lata de cerveza en la mano
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(poemas en su idioma original, portugués)
Se o meu coração não bastar.
13 poemas de Jovino Machado
Janaina
sua beleza
é irlandesa
sua boca
é francesa
seu olhar
é mar
mais belo
a cada ano
seu nariz
é italiano
sua alma ruiva
pra vida uiva
luxúria nua
aquela cara
que ela faz
na hora do amor
aquele olhar-neblina
quando ela fuma
o primeiro cigarro
na varanda do décimo quarto andar
aquele sorriso-mona lisa
aquela fumaça branca
aquele suspiro
contemplando
a madrugada de são paulo
aquela gargalhada
depois da primeira taça
aqueles pés
esculpidos por michelangelo
feiticeira de minha poesia
macumbeira do meu desejo
aquele cabelo
que louro ou negro
dorme escorrendo
no lado vadio
do meu coração esquerdo
Janaina 2
depois do amor
ela ficava na cama
pelada
comendo goiaba
e jogando as cascas
para um cachorro vesgo
chamado belchior
depois do sexo
ela ficava na cama
melada
fumando
e jogando as cinzas
num cinzeiro verde
que comprou no norte da espanha
depois do gozo
ela ficava na cama
saciada
bebendo um bordeaux
e lendo os poemas pornográficos
que o seu poeta escreveu
para o diário da orgia
Trampulinho
delicadamente
ela pisa
no meu peito
seus lírios líricos
beijam
meus mamilos
seu calcanhar
cor-de-rosa
desliza na língua
antes do salto
Serenata
seu suor é suave sereno
sacrário saliva seresta
seus seios são sementes
setas e sem-vergonhices
suas sardas são sonatas
segredos saraus sabores
seus meios são secretos
sangue e selva satânica
seu sorriso é semeadura
safadeza sol sacramento
seu saiote é saracoteio
sereia sadismo silêncio
seu suor é suave sereno
Transplante
se o meu coração não bastar
te dou o meu riso e o meu rim
se o meu coração não bastar
te dou o meu fígado e o meu fim
se o meu coração não bastar
te dou o meu olho e o meu olhar
é pegar ou largar
Filme de amor
devolva as manhãs de abril
que você me levou
devolva as tardes de maio
que você me levou
devolva as noites de junho
que você me levou
não precisa devolver o vento
A divina comédia
não vou te mandar para o céu
cai neve depois da chuva azul
e você sente muito frio nos pés
não jazz depois das estrelas
sei que você não gosta de sambar
não vou te mandar para o inferno
cai luz depois do arco-íris
e o seu tédio não vai iluminar
as saias curtas das belas pecadoras
não vou te mandar para o inferno
cai fogo depois das tempestades
e o seu desejo não é boa lenha
para as monstruosas fogueiras
não vou te mandar para o inferno
porque tenho pena do capeta
o seu destino é o purgatório
Educação sentimental
como abortar um amor
não é uma lição
que pode ser estudada
na biologia
mas pode ser apreciada
em qualquer antologia
Cind
amo a deus
apesar das dores
amo o diabo
apesar dos amores
amo você
sem apesar
Noturna
ave maria
cheia de graça
é a cind menina
que vem e que passa
num doce balanço
caminho do bar
cor de cadáver
a fumaça do cigarro
não esconde a sua beleza
sua tristeza não se afoga
no copo de cerveja
seu olhar é um fantasma
que, num drible, oscila
entre a trave e o gol
no seu sorriso
vejo que você possui
apenas o que te falta
Meu jeito bêbado de ser
tenho medo de ser atropelado
com uma lata de cerveja na mão
mas não seria bom
para a minha biografia
ser atropelado
sem uma lata de cerveja na mão
*(Minas Gerais-Brasil, 1963). Poeta. Reside en Belo Horizonte (Brasil). Ha publicado poemas en el Suplemento Literário de Minas Gerais, Caderno Pensar, Rascunho, Cândido, Poesia Sempre, Cem Flores, A Parada, Dez Faces, entre otros. Ha publicado más de veinte libros y plaquettes. En 2015 participó en la Coleção Leve um Livro, y reunió toda su obra en el volumen Sobras completas. En 2020, publicó A trilogia do álcool & outros poemas.
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*(Minas Gerais-Brasil, 1963). Poeta. Vive em Belo Horizonte (Brasil). Publicou poemas no Suplemento Literário de Minas Gerais, Caderno Pensar, Rascunho, Cândido, Poesia Sempre, Cem Flores, A Parada, Dez Faces, entre outros. Publicou mais de vinte livros e livretos. Em 2015 participou da Coleção Leve um Livro e reuniu toda a sua obra no volume Sobras completas. Em 2020, publicou A trilogia do álcool & outros poemas.