La mirada que erra y se prolonga. 12 + 1 poemas de Duda Machado

 

Por Duda Machado*

Curador de la muestra Fabrício Marques

Traducción por Rodolfo Mata,

Regina Crespo y Jorge Monteleone

Crédito de la foto Lincon Zarbietti

 

 

La mirada que erra y se prolonga.

12 + 1 poemas de Duda Machado

 

 

Muerto-vivo

 

Hay en la expresión muerto-vivo

una cierta maleabilidad

que se desdobla hasta el predominio

exiguo de un término sobre el otro,

o una distancia cualquiera entre

ellos, a partir de su vinculación.

 

También se puede imaginar,

lector, esta expresión en el centro

de una página; suelta sobre

lo blanco. Y, de adentro hacia

afuera de la página, alguien

recorriendo aquella distancia

cualquiera. O incluso muchos.

Entonces se necesitarían páginas

y más páginas. O libros

y más libros.

 

(De Adivinhação da leveza)

(Trad. Rodolfo Mata y Regina Crespo)

 

 

 

Oración con objetos

 

                        A Ana Helena

 

desconectados, inmersos

en la más compacta exterioridad

 

ya no se alcanzan

en sus propios dominios

 

un mutuo desgarre

destierra las partes

que paren el mundo

 

– vuelve a la superficie

ánimo

salve

 

varia definición

de seres, cosas, estares

 

alma del gesto que escoge

ojo que impele el toque

 

amor

acógeme

 

 

 

Devorar el paisaje

 

A la izquierda el cerro. Más

adelante casas, la arboleda

varia. Un poco abajo,

la carretera, el arroyo.

 

Colores que rebasan distancias

sugerencias de textura

entre vegetación y viento;

la mirada que erra y se prolonga

en busca de su morada.

 

De algún lugar,

distante de las retinas,

la fiera irrumpe

y de pronto,

el paisaje se contrae.

 

Ya es presa,

banquete de significados

con que la fiera

realimenta su hambre.

 

(De Margem de uma onda)

(Trad. Rodolfo Mata y Regina Crespo)

 

 

 

Margen de una onda

 

entrás al mar

pero es desierto

arena convirtiendo em piedra

hasta los huesos

 

(olas del mar de Vigo

?cómo he de estar contigo?)

 

mar que se dice desierto

donde agua es tener nombre

 

hasta una ola extrema

quiere llevarte el poema

 

allá donde es tan difícil

estar –donde no hay nombre

 

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Dentro del espejo

 

dentro del espejo

ya no nos vemos

 

a su alrededor, cada objeto imprime

una velocidade indefinible

 

y ya no importa la distancia

la misma nitidez alcanza

lo que está cerca

lo que es remoto

 

así persiste

hasta que una fatiga

desdobla y disipa

cada cosa

 

como un acorde

un desmentido

una propulsíon

un vacío

 

rumbo a una

nada extraordinaria

 

 

 

Meridiano

 

tempestade sin cielo

de noches sin sueño

 

em que el espíritu

rasga la carne

y la memoria se contrae

frente a un mapa

 

de líneas equívocas

cuyos puntos fueron recorridos

em vivo

entre gestos hipnóticamente em llamas

 

ignorantes

inaccesibles estrellas:

vivir también puede

ser lejos

 

despertar es raro

breve

 

un dormitar, un pestañeo

por donde irrumpe

el entrevisto espanto

de lo que somos

 

despertar es un sueño

 

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Duración del paisaje

 

Olvida la música.

 

Antes sustentar la tensión

a punto de contemplarla

todavía dentro

de su permanencia

 

A partir de ahí

-el mundo intacto-

se va abriendo un espacio,

paisaje no atestado,

solamente habitado

por una duracíon

a la que despertamos

y em la que, a veces,

podemos existir.

 

 

 

Trébol

 

I

los poemas

em que se quiere despertar

y regresar a la noche

 

II

la forma

en que la mirada se fija,

olvidada ya de ver

 

III

una imagen a la deriva

tan densa

en su ensimismamiento

 

a punto de excitar

el deseo de forma

hasta agotarlo

y reafirmar su deriva

varias octavas arriba

 

 

 

Poética del desastre

 

Cada detalle se emancipa: entre

ellos ningún vínculo subsiste,

ni su disparidad implica

alguna combinacíon imprevista.

 

Modelados por la disgregacíon,

se apegan al enclaustramiento

que los hace resistir.

 

Contra-organizan el desastre:

son su composición.

 

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Visión al revés

 

neón insomne

esquinas frigorífico

 

en la madrugada

drogada

cielo y asfalto

se igualan

exhaustos

 

em un rincón

travesti y ratero

cierran un trato

 

: déjà vu

reston

telón rápido

 

 

 

Álbum

 

velocidad

            de soles

            árboles

            cuerpos

 

floración

            abrupta

            de ahoras

            tan éxtasis

 

mañanas

            atravesando

 

noches

            em la misma

            frase-brisa

 

granos

            arrebatados

            a la sal del mar

            dolor dorado

            aturdida alegria

 

poros

            abiertos

            al ideal

 

………………………………………………

 

canciones

            que me rejuvencen

            y mienten

 

 

 

*

 

 

 

llevar

 

                        abrir

 

                                                1 libro

 

                                                                        a la orilla del rio

 

el texto

 

                                                                                                el rio

 

palabrasparalosojoscomoaguassobrelacara

 

 

 

 

*

 

¿qué suena más alto,

el vuelo o el canto

del pájaro?

 

(Trad. Jorge Monteleone)

 

 

 

Ronda de las ideas fijas

 

            Para João Alexandre Barbosa

 

Otros – en el tiempo –

componen emblemas

con que me persigo

 

presencias perpetuadas

por la más tenaz repetición

que engendra la suprema

sorpresa geométrica

de un laberinto interno

a una línea recta

 

la misma cosa concreta

cercada hasta su abstracción

o incluso afirmada

por el apego contrario

de la vía negativa

 

como la metáfora implícita

en liquidar las metáforas

y aquella búsqueda de la hora

– impuntual –

que es el fin de todas las horas

 

(De Crescente)

(Trad. Rodolfo Mata y Regina Crespo)

 

 

 

Clar(o)scuro

 

 

 

 

 

                                    Estaba tan lúcido

 

                                                                                                que era un suicidio.

 

(De Zil)

(Trad. Rodolfo Mata)

 

 

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(poemas en su versión original, portugués)

 

El poeta Duda Machado
El poeta Duda Machado

O olhar que erra e se prolonga.

12 + 1 poemas do Duda Machado

 

 

Morto-vivo

 

Há na expressão morto-vivo

uma certa maleabilidade

a desdobrar-se até o predomínio

exíguo de um termo sobre o outro,

ou uma distância qualquer entre

eles, a partir de sua ligação.

 

Dá para imaginar também,

leitor, esta expressão no centro

de uma página; avulsa sobre

o branco. E, de dentro para

fora da página, alguém

a percorrer aquela distância

qualquer. Ou mesmo muitos.

Aí seria preciso páginas

e mais páginas. Ou livros

e mais livros.

 

(Do Adivinhação da leveza)

 

 

 

Oração com objetos

 

            A Ana Helena

 

desconectados, imersos

na mais compacta exterioridade

 

já não se atingem

em seus próprios domínios

 

um mútuo desgarre

desterra as partes

que parem o mundo

 

– volta à superfície

ânimo

salve

 

definição vária

de seres, coisas, estares

 

alma do gesto que escolhe

olho que impele o toque

 

amor

me acolhe

 

 

 

Devoração da paisagem

 

À esquerda, o morro. Logo

adiante casas, o arvoredo

vário. Um pouco abaixo,

a estrada, o riacho.

 

Cores que ultrapassam distâncias

sugestões de textura

entre vegetação e vento;

o olhar que erra e se prolonga

em busca de sua moradia.

 

De algum lugar,

distante das retinas,

a fera irrompe

e de pronto,

a paisagem se contrai.

 

Já é presa,

repasto de significados

com que a fera

realimenta sua fome.

 

 

 

Margem de uma onda

 

você entra no mar

mas é deserto

areia empedran-

do até os ossos

 

(ondas do mar de Vigo

como hei de estar contigo?)

 

mar que se diz deserto

mas onde água é ter nome

 

a uma onda extrema

quer te levar o poema

 

lá onde é tão difícil

estar – onde é sem nome

 

(De Margem de uma onda)

 

 

 

Dentro do espelho

 

dentro do espelho

não mais nos vemos

 

a seu redor, cada objeto imprime

uma velocidade indefinível

 

já não importa a distância

a mesma nitidez alcança

o que está perto

e o que é remoto

 

assim persiste

até que uma folga

a cada coisa

desdobra e dissipa

 

qual um acorde

um desmentido

uma propulsão

um vácuo

 

rumo a um

nada extraordinário

 

 

 

Meridiano

 

tempestade sem céu

de noites em claro

 

em que o espírito

rasga a carne

e a memória se contrai

ante um mapa

 

de linhas equívocas

cujos pontos foram percorridos

ao vivo

entre gestos hipnoticamente acesos

 

ignorantes

inacessíveis estrelas

viver também pode

ser longe

 

acordar é raro

breve

 

um cochilo, piscar de olhos

por onde irrompe

o entrevisto espanto

do que somos

 

acordar é um sonho

 

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Duração da paisagem

 

Esquece a música.

 

Antes sustentar a tensão

a ponto de contemplá-la

dentro ainda

de sua permanência.

 

A partir daí

– o mundo intacto –

vai-se abrindo um espaço,

paisagem não-preenchida,

habitada somente

por uma duração

para a qual acordamos

e, na qual, às vezes,

podemos existir.

 

 

 

 

Trevo

 

I

os poemas

em que se quer acordar

e regressar à noite

 

II

a forma

na qual o olhar se fixa,

já esquecido de ver

 

III

uma imagem à deriva

tão densa

em seu ensimesmamento

 

a ponto de excitar

o desejo da forma

até esgotá-lo

e reafirmar sua deriva

várias oitavas acima

 

 

 

Poética do desastre

 

Cada detalhe se emancipa; entre

eles vínculo nenhum subsiste,

nem sua disparidade implica

qualquer combinação imprevista.

 

Moldados pela desagregação,

apegam-se ao enclausuramento

que os faz resistir.

 

Contra-organizam o desastre:

são sua composição.

 

 

 

Visão ao avesso

 

neon insone

esquinas frigorífico

 

na madrugada

drogada

céu e asfalto

se ombreiam

exaustos

 

a um canto

travesti e pivete

apressam um trato

 

: déjà vu

restos

pano rápido

 

 

 

Álbum

 

velocidade

            de sóis

            árvores

            corpos

 

floração

            abrupta

            de agoras

            tão êxtase

 

manhãs

            atravessando

 

noites

            na mesma

            frase-brisa

 

grãos

            arrebatados

            ao sal do mar

            dor dourada

            atordoada alegria

 

poros

            abertos

            ao ideal

 

…………………………………………………….

 

canções

            que me adolescem

            e mentem

 

*

levar

 

                        abrir

 

                                                1 livro

 

                                                                        na beira do rio

 

o texto

 

                                                                                                o rio

 

 

palavrasparaosolhoscomoáguassobreacara

 

 

 

 

 

 

 

 

*

 

 

o que soa mais alto

o voo ou o canto

do pássaro?

 

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Roda das ideias fixas

 

           Para João Alexandre Barbosa

 

Outros – no tempo –

compõem emblemas

com que me persigo

 

presenças perpetuadas

pela mais tenaz repetição

a engendrar a suprema

surpresa geométrica

de um labirinto interno

a uma linha reta

 

a mesma coisa concreta

cercada até sua abstração

ou afirmada ainda

pelo apego avesso

da via negativa

 

como a metáfora implícita

em liquidar com as metáforas

e aquela busca da hora

– impontual –

que é o fim de todas as horas

 

(De Crescente)

 

 

 

Claro-escuro

 

 

 

 

 

                                    Estava tão lúcido

 

                                                                                                            que era um suicídio.

 

(De Zil)

 

 

 

 

 

*(Salvador de Bahía-Brasil, 1944). Editor, poeta y traductor. Licenciado en Ciencias sociales y doctorado en Teoría literaria. En la década de 1970, escribió algunas letras para el movimiento Tropicalista, como “Doente, morena”, con música de Gilberto Gil. Fue editor de la revista de poesía de vanguardia Pólen (1974). Se desempeñó en la Editora de la Universidad de São Paulo (Brasil). Desde 1998 trabaja como profesor de la Universidad Federal de Ouro Preto de Minas Gerais (Brasil). Duda Machado es un poeta “bisiesto”, categoría con la que se designa en Brasil a los autores cuya producción es esporádica. Después de Zil (1977), Crescente (1990), Margem de uma onda (1997) y Adivinhação da leveza (2011); en narrativa para niños Histórias com poesias, alguns bichos & cia (1997) y Tudo tem a sua história (2005).

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