El brazo del péndulo. 13 poemas de Carlos Machado

 

Por Carlos Machado*

Traducción al español por Emilia Albo Rosillo

Curador de la muestra Fabrício Marques

Crédito de la foto Raul Junior

 

El brazo del péndulo.

13 poemas de Carlos Machado

 

 

Certo

 

las cosas no funcionan

nunca funcionaran

no fueron hechas para funcionar

 

nosotros tenemos la ambición

de alineación y de simetría

 

y hasta inventamos dioses perfectos

hechos a la imagen

y semejanza de lo que soñamos

 

las cosas no funcionan

es que nosotros zurcimos el tejido

obturamos el diente

remendamos la frontera del mapa

 

e inauguramos

en la estatua de plomo

un simulacro de ave

 

queremos creer

que las cosas funcionan

las cosas ahora están funcionando

y — si dios quiere —

 

siempre funcionarán

 

 

 

Cámara

 

How you die is the most

 important thing you ever do.

 Timothy Leary

 

unos prefieren

la muerte discreta

aséptica

sin vejación

 

otros apuestan

el alboroto:

enjambre

de cámaras al

hueso de la nada

 

Thimothy leary

gurú

lisérgico no quería

el analgésico

del silencio

 

murió en un show

cibernético

cámara abierta

para el ojo

poniente

 

 

 

Heracliteano

 

al segundo latigazo

tú ya eres otro

 

— no importa el lado

del látigo

 

 

Comercio

 

comprar tiempo

en barras

— como oro

o jabón —

y mantenerlo

en las almacenes

de la codicia

 

instituir

el prospero

comercio

de la eternidad

 

y abrir las

puertas

para nueva

y concurrida

profesión:

ladrón

de tiempo

 

 

 

Péndulo

 

el brazo del péndulo

nunca se agita

 

apenas asiente sin

énfasis

 

al compás de

despedida

 

 

 

Alma de reloj (2)

 

Es en el cambio que las cosas

encuentran el reposo

Heráclito

 

no duermes:

tu único

reposo

es descubrirte

en cada momento

siempre

desigual a

ti mismo

 

 

 

Baobab

 

Ganas de hacer

una cosa grande

de inmenso futuro:

plantar un pie

de jacarandá

un baobab

y dejarlo ahí

para besar

la cumbre

de los siglos,

burlarse de todo

lo que es breve

y que, como nosotros,

se consume

en el roce de las

horas, en el

vértigo

incontrolable

de las cosas menudas.

 

 

La caza insumisa

 

nada posees del otro

ni cuerpo ni ala

ni mismo el soplo

cálido de la palabra

 

tuyo es solamente el perfume

de carne y cedro

que aspiras en la piel

de la caza insumisa

 

nada es tuyo: duerme

e inventa en el sueño

otra forma de lazo

caza sin cazador

 

 

 

Agua y sal

 

digo que fue el viento:

inundó mis ojos

de sal

 

(ese viento del mar

tú sabes…)

 

pero es mentira:

no son lágrimas

de sal

es la pungencia del azul

 

 

 

Bodas

 

el padre

bendice

 

la madre

llora y bendice

 

el tiempo

ríe — ríe y traiciona

 

 

 

Cazador

 

el amor carga en el bolsillo

siete granos de plomo

 

pisa chueco corto de miras

y mira de traves

 

los días impares

va de caza

 

los pares se recoge

para llorar

 

cuando sale no dice adonde

va sin dejar pista

 

cuando llega destroza

la casa y

 

esparce violetas

en el suelo

 

el amor carga en el dorso

siete granos de plomos

 

 

 

Las cosas

 

Las cosas no tienen la culpa.

Sólo son testigos

de nuestras comedias.

 

Las cosas no abrazan causas.

Es inútil acusarlas

de cualquier inclinación,

lealtad o felonía.

 

Sustantivos neutros,

solo son cosas:

este botón descosido de tu blusa

esta zapatilla al pie de la cama

una hoja de papel en blanco

— y ningún drama.

 

Las cosas no guardan secretos

ni remordimientos.

Asisten calladas

y resisten

vestidas de cal y silencio.

 

Las cosas no tienen deseos

ni poderes.

 

Pero, iluminadas,

exhiben siempre

un semblante estoico de piedra.

 

En eso las cosas son todas iguales

 

— todas indiferentes.

 

El poeta Carlos Machado

 

Punto final

 

¿Se acaba el mundo? Tal vez sí.

Pero no como suponen

los poetas y profetas.Quién

tiembla de miedo delante los

círculos infernales de Dante;

quién teme a las trompetas

del Apocalipsis; quién gime

de pánico pensando en las gehenas

y a los seres extraños

de Hieronymus Bosch. No,

la ciencia es más sutil y cruel.

Ningun temor o temblor

presupone lo que puede venir

de las siniestras conjeturas

de los cosmólogos. Ni el agua

ni el fuego ni el horror dantesco.

Colapso universal y absurdo.

El Big Bang al revés.

Todas las dimensiones contraídas

en un punto único. Punto

monstruosamente final.

 

 

 

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(poemas en su idioma original, portugués)

 

 

O braço do pêndulo.

13 poemas do Carlos Machado

 

 

 

Certo

 

as coisas não dão certo

nunca deram certo

não foram feitas para dar certo

 

nós é que temos a ambição

do alinhamento e da simetria

 

e até inventamos deuses perfeitos

construídos à imagem

e semelhança do que sonhamos

 

as coisas não dão certo

nós é que cerzimos o pano

obturamos o dente

remendamos a fronteira no mapa

 

e inauguramos

na estátua de chumbo

um simulacro de ave

 

queremos crer

que as coisas dão certo

as coisas agora estão dando certo

e — se deus quiser —

 

sempre darão

 

 

 

Câmera

 

How you die is the most

important thing you ever do.

Timothy Leary

 

uns preferem

a morte discreta

asséptica

sem vexame

 

outros apostam

no alvoroço:

enxame

de câmeras até

o osso do nada

 

thimothy leary

guru

lisérgico não quis

o analségico

do silêncio

 

morreu em show

cibernético

câmera aberta

para o olho

poente

 

 

 

Heraclitiano

 

na segunda chicotada

você já é outro

 

— não importa o lado

do chicote

 

 

Comércio

 

comprar tempo

em barras

– como ouro

ou sabão –

e estocá-lo

nos armazéns

da cobiça

 

instituir

o próspero

comércio

da eternidade

 

e abrir as

portas

para nova

e concorrida

profissão:

ladrão

de tempo

 

 

 

Pêndulo

 

o braço do pêndulo

nunca se agita

 

apenas acena sem

ênfase

 

em compasso de

despedida

 

 

 

Alma de relógio (2)

 

É na mudança que as coisas

acham repouso.

Heráclito

 

não dormes:

teu único

repouso

é descobrir-te

em cada momento

sempre

desigual a

ti mesmo

 

 

 

Baobá

 

Vontade de fazer

uma coisa grande

de futuro imenso:

plantar um pé

de jacarandá

um baobá

e deixá-lo aí

para beijar

a cumeeira

dos séculos,

zombar de tudo

que é breve

e que, como nós,

se consome

no atrito das

horas, na

vertigem

incontrolável

das coisas miúdas.

 

 

 

A caça insubmissa

 

nada possuis do outro

nem corpo nem asa

nem mesmo o sopro

morno da palavra

 

teu é apenas o perfume

de carne e cedro

que aspiras na pele

da caça insubmissa

 

nada é teu: dorme

e inventa no sonho

outra forma de laço

caça sem caçador

 

 

Água e sal

 

digo que foi o vento:

inundou meus olhos

de sal

 

(esse vento do mar

você sabe…)

 

mas é mentira:

não são lágrimas

de sal

é a pungência do azul

 

 

 

Bodas

 

o pai

abençoa

 

a mãe

chora e abençoa

 

o tempo

ri — ri e atraiçoa

 

 

 

Caçador

 

o amor carrega no bolso

sete grãos de chumbo

 

pisa torto enxerga pouco

e olha de través

 

nos dias ímpares

vai à caça

 

nos pares se recolhe

para chorar

 

quando sai não diz aonde

vai nem deixa pista

 

quando chega destrói

a casa e

 

espalha violetas

pelo chão

 

o amor carrega no dorso

sete grãos de chumbo

 

 

 

As coisas

 

As coisas não têm culpa.

São apenas testemunhas

de nossas comédias.

 

As coisas não abraçam causas.

É inútil acusá-las

de qualquer inclinação,

lealdade ou felonia.

 

Substantivos neutros,

são apenas coisas:

este botão descosturado de tua blusa

este chinelo ao pé da cama

um folha de papel em branco

— e nenhum drama.

 

As coisas não guardam segredos

nem remorsos.

Assistem caladas

e resistem

vestidas de cal e silêncio.

 

As coisas não têm quereres

nem poderes.

 

Mas, desassombradas,

exibem sempre

o semblante estoico da pedra.

 

Nisso as coisas são todas iguais

 

— todas indiferentes.

 

 

 

Ponto final

 

O mundo acaba? Talvez sim.

Porém não como supõem

poetas e profetas. Quem

treme de medo diante dos

círculos infernais de Dante;

quem teme as trombetas

do Apocalipse; quem geme

de pânico ao pensar nas geenas

e nos seres estrambóticos

de Hieronymus Bosch. Não,

a ciência é mais sutil e cruel.

Nenhum temor ou tremor

pressupõe o que pode vir

das sinistras conjecturas

dos cosmólogos. Nem água

nem fogo nem horror dantesco.

Colapso universal e absurdo.

O Big Bang ao avesso.

Todas as dimensões contraídas

num ponto único. Ponto

monstruosamente final.

 

 

 

 

 

*(Bahia-Brasil, 1951). Poeta y periodista. Es editor de la web Alguma Poesia y el boletín quincenal poesia.net. Ha publicado en poesía A mulher de Ló (2018), Tesoura cega (2015) y Pássaro de vidro (2006); y el poemario para niños Cada bicho com seu capricho (2015).

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*(Bahia-Brasil, 1951). É poeta e jornalista. Edita na internet o site Alguma Poesia (www.algumapoesia.com.br) e o boletim quinzenal poesia.net. Autor dos livros A mulher de Ló (2018), Tesoura cega (2015) e Pássaro de vidro (2006). Publicou também um título de poemas para crianças Cada bicho com seu capricho (2015).

 

 

 

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