Por Chacal*
Traducción del portugués al español por Tom Bojorquez
Curador de la muestra Fabrício Marques
Crédito de la foto www.aescotilha.com.br
Aquello que las personas desprecian.
13 poemas de Chacal
Está prohibido pisar en el pasto.
la manera es recostarse y rodar
El beso
todo mundo necesita un beso
el elevadorista la vitrinista
el judoca el playboy
el zaguero el bombero el hidrante
el hidrante necesita también
de cuidados agua abundante
analgésicos y dinero
todo mundo necesita de dinero
el maracaná el pabellón de san cristóbal
el cristo la piedra de la gabia o de los hermanos
¿quién no necesita de dinero?
todo mundo necesita un beso
Una palabra
una
palabra
escrita es una
palabra no dicha es una
palabra maldita es una palabra
grabada como corbata que es una palabra
traviesa como guayaba que es una palabra sabrosa
Aquello que sobra
Me gusta aquello que sobra.
aquello que las personas desprecian.
en la feria, recojo entre los desechos
la semilla de la calabaza, la hoja de la mandioca.
en el mercado, compro el salvado de trigo, de arroz.
me gusta alimentarme de cosas nutritivas.
personas principalmente.
pero nuestra cultura, así como los granos, refina
a las personas.
toma de ellas lo más nutritivo y deja nada más el esqueleto
sin sustancia.
por eso me gusta lo que sobra.
de las personas despreciadas como yo.
Rápido y rastrero
tendré una fiesta
que voy a danzar
hasta los zapatos pedir para parar.
ahí yo paro, dejo los zapatos
y danzo el resto de la vida
Siete pruebas y ningún crimen
estaba la mancha de sangre en el chaleco
y ningún cuerpo
estaba la mirada ruda, el rostro crispado
y ningún motivo
había un olor impregnado en el cuerpo
y ninguna huella digital
estaba el virus, el boleto, el arma blanca
y ningún asesinato
había en vano la confesión
y ningún ilícito
había una silla de ruedas vacía
y ningún sospechoso
había un gato boca abajo en el acuario
y ningún pez
Cómo era bueno
el tiempo en que marx explicaba el mundo
todo era lucha de clases
cómo era simple
el tiempo en que freud explicaba
que edipo todo explicaba
todo era clarito limpiecito explicadito
todo era mucho más aséptico
que cuando yo nací
hoy rodado sambado alocado
descubrí que es necesario
aprender a nacer todos los días
Alma de indio
de las personas que me gustan
me dan ganas cuando nos
encontramos de dar un panzazo
un abrazo un gran beso.
pero la mórbida catequesis se
instala en el alma de ese indio
sin ceremonia.
Sobre el silencio
hoy no venimos a discutir proyectos
hoy no venimos a pedir
hoy venimos como alguien que visita su casa
que viene a decir a la familia
sobre las dificultades de tejerse la invención
sobre el abismo que se abre para más allá del entretenimiento
sobre el placer que es luchar por lo que se cree
hoy venimos a decir a la familia
que no vamos a terminar más los estudios
y que nuestra carne curtida, nuestros ojos rojos,
nuestra sonrisa encarnada y, principalmente, nuestro silencio
dicen todo.
Mirante de Leblon
aquí
de espaldas a la aurora
todo mi ser resplandece
todo mi ser desarbola
aquí
el amanecer
me va a encontrar
ahora
20 años retraídos
llegó la hora de amar desesperadamente
apasionadamente
descontroladamente
llegó la hora de cambiar el estilo
de cambiar el vestido
llegó atrasada como un tren atrasado
pero que llega
Pequeño pato feo
en todo poema
se aprovecha al menos un verso.
de éste ni eso.
Espera, baby
Espera baby no desesperes
no me vengas con propuestas tan fuera de propósito
no amenaces con planes extravagantes pero tan distantes
espera baby no desesperes
vamos tomar uno más y hablar sobre los misterios
de la luna vaga
dylan en la vitrola dedo en las teclas
canto invento en tanto el viento marasma
espera baby no desesperes
tenemos un cuarto una consola una capota
vamos a atrapar un conejo una baraja
y un castillo de cartas
vamos a vivir el tiempo olvidado del mago merlín
vamos a armar el espejo partido de la vida como ella es
espera baby no desesperes
la laguna se ha de secar
y nosotros no nos quedaremos más a ver navíos
y nosotros no nos quedaremos más a roer el filo de la vida
y nosotros no quedaremos más a temer la ala negra del fin
espera baby no desesperes
porque en ese día soplará el viento de la aventura
porque en ese día llegará la rueda de la fortuna
porque en ese día se oirá el canto del amor
y mi dedo no herirá más el silencio de la noche
con tronidos perdidos
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(poemas en su idioma original, portugués)
Daquilo que as pessoas desprezam.
13 poemas do Chacal
É proibido pisar na grama.
o jeito é deitar e rolar
O beijo
todo mundo precisa de beijo
o ascensorista a vitrinista
o judoca o playboy
o zagueiro o bombeiro o hidrante
o hidrante precisa também
de cuidados água farta
analgésicos e dinheiro
todo mundo precisa de dinheiro
o maracanã o pavilhão de são cristóvão
o cristo a pedra da gávea o dois irmãos
quem não precisa de dinheiro?
todo mundo precisa de beijo
Uma palavra
uma
palavra
escrita é uma
palavra não dita é uma
palavra maldita é uma palavra
gravada como gravata que é uma palavra
gaiata como goiaba que é uma palavra gostosa
Aquilo que sobra
gosto daquilo que sobra.
daquilo que as pessoas desprezam.
na feira, recolho entre os dejetos
a semente da abóbora, a folha da mandioca.
no empório, compro o farelo do trigo, do arroz.
gosto de me alimentar de coisas nutritivas.
pessoas principalmente.
mas nossa cultura, assim como os grãos, refina
as pessoas.
tira delas o mais nutritivo e deixa apenas o miolo
sem sustância.
por isso gosto do que sobra.
das pessoas desprezadas como eu.
Rápido e rasteiro
vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.
aí eu paro, tiro o sapato
e danço o resto da vida
Sete provas e nenhum crime
havia a mancha de sangue no jaleco
e nenhum corpo
havia o olhar rútilo, o rosto crispado
e nenhum motivo
havia o cheiro impregnado no copo
e nenhuma digital
havia o vírus, o bilhete, a arma branca
e nenhum assassinato
havia em vão a confissão
e nenhum ilícito
havia a cadeira de rodas vazia
e nenhum suspeito
havia um gato emborcado no aquário
e peixe nenhum
Como era bom
o tempo em que marx explicava o mundo
tudo era luta de classes
como era simples
o tempo em que freud explicava
que édipo tudo explicava
tudo era clarinho limpinho explicadinho
tudo era muito mais asséptico
do que quando eu nasci
hoje rodado sambado pirado
descobri que é preciso
aprender a nascer todo dia
Alma de índio
das pessoas que a gente gosta
o que dá vontade é quando se
encontra dar uma barrigada
um abraço um grande beijo.
mas a mórbida catequese se
instala na alma desse índio
sem cerimônia.
Sobre o silêncio
hoje não viemos discutir projetos
hoje não viemos pedir
hoje viemos como alguém que visita sua casa
que vem dizer pra família
sobre as dificuldades de se tecer a invenção
sobre o abismo que se abre para além do entretenimento
sobre o prazer que é lutar pelo que se acredita
hoje viemos dizer pra família
que não vamos mais terminar os estudos
e que nossa carne curtida, nosso olho vermelho,
nosso sorriso encarnado e, principalmente, nosso silêncio
dizem tudo.
Mirante do Leblon
aqui
encostado na aurora
todo meu ser esplandece
todo meu ser desarvora
aqui
o amanhecer
vai me encontrar
agora
20 anos recolhidos
chegou a hora de amar desesperadamente
apaixonadamente
descontroladamente
chegou a hora de mudar o estilo
de mudar o vestido
chegou atrasada como um trem atrasado
mas que chega
Pequeno pato feio
em todo poema
se aproveita ao menos um verso.
deste nem isso.
Espere, baby
Espere baby não desespere
não me venha com propostas tão fora de propósito
não acene com planos mirabolantes mas tão distantes
espere baby não desespere
vamos tomar mais um e falar sobre os mistérios
da lua vaga
dylan na vitrola dedo nas teclas
canto invento enquanto o vento marasma
espere baby não desespere
temos um quarto uma eletrola uma cartola
vamos puxar um coelho um baralho
e um castelo de cartas
vamos viver o tempo esquecido do mago merlin
vamos montar o espelho partido da vida como ela é
espere baby não desespere
a lagoa há de secar
e nós não ficaremos mais a ver navios
e nós não ficaremos mais a roer o fio da vida
e nós não ficaremos mais a temer a asa negra do fim
espere baby não desespere
porque nesse dia soprará o vento da ventura
porque nesse dia chegará a roda da fortuna
porque nesse dia se ouvirá o canto do amor
e meu dedo não mais ferirá o silêncio da noite
com estampidos perdidos
*(Río de Janeiro-Brasil, 1951). Chacal (pseud. de Ricardo de Carvalho Duarte. Poeta, cronista y letrista, es uno de los precursores de la poesía marginal. En 1971 estrenó Muito Prazer, Ricardo. Entre 1978 y 1990 fue coautor de piezas teatrales y trabajó como cronista del Correio Brasiliense y de la Folha de S. Paulo, además de guionista de la TV Globo. En la década de 1990 fue productor del Centro de Experimentación Poética – CEP 20000, de la Rioarte y editó la revista O Carioca. En 2010, lanzó la autobiografía Uma história à margem. Ha publicado en poesía Nariz Aniz (1979), Boca Roxa (1979), Comício de Tudo (1986), Letra Elétrika (1994), Belvedere (reunión de poesía, 2007), Tudo (e mais um pouco) (reunión de poesía, 2016), Murundum (2012), Seu Madruga e eu (2015) y Alô poeta (2016).
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*(Rio de Janeiro-Brasil, 1951). Chacal é Ricardo de Carvalho Duarte. Poeta, cronista e letrista, é um dos precursores da poesia marginal. Estreou em 1971, com Muito Prazer, Ricardo. Entre 1978 e 1990 foi co-autor de peças teatrais e trabalhou como cronista do Correio Brasiliense e da Folha de S. Paulo, além de roteirista da TV Globo. Nos anos de 1990 foi produtor do Centro de Experimentação Poética – CEP 20000, da Rioarte e editou a revista O Carioca. Em 2010 lançou a autobiografia Uma história à margem. Sua obra poética inclui Nariz Aniz (1979), Boca Roxa (1979), Comício de Tudo (1986) e Letra Elétrika (1994). Em 2007 saiu Belvedere, reunião de seus livros lançados até esta data. Em 2016, nova reunião de sua obra poética, Tudo (e mais um pouco), do primeiro livro até os mais recentes Murundum (2012), Seu Madruga e eu (2015) e Alô poeta (2016).