Por Ana Martins*
Traducción por Andrea Cruzado**
Crédito de la foto Ed. Companhia das Letras
5 poemas de El libro de las semejanzas (2015),
de Ana Martins
Dedicatoria
Aun cuando no te fueron dedicadas
Todas las palabras en los libros
Parecían escritas para ti
Primer poema
El primer verso es el más difícil
El lector está en la puerta
No sabe todavía si entra
O sólo espía
Si se lanza al libro
O finalmente encara
El día
El día: cuentas por pagar
Correspondencia atrasada
Congestionamientos
Tazas sucias
Aquí al menos no encontrarás,
Lector,
Tazas sucias.
Traducción
Este poema
En otra lengua
Sería otro poema
Un reloj atrasado
Que marca la hora exacta
De algún otro lugar
Un niño que inventa
Una lengua solo para hablar
Con otro niño
Una casa de montaña
Reconstruida sobre la playa
Corroída poco a poco por la presencia del mar
Lo importante es que
En un punto determinado
Los poemas estén emparejados
Como en ciertos problemas de física
De viejos libros escolares
No sé hacer poemas sobre gatos
No sé gatografía
(Ana Cristina Cesar)
No sé hacer poemas sobre gatos
Si intento luego huyen
Furtivas
Las palabras
Se sueltan o
Saltan
No capturan del gato
Ni la cola
Sobre la mesa
Quieta y caliente
La hoja recién impresa
Página blanca con manchas negras:
He aquí mi poema sobre gatos
Buena idea para un poema
Anoté una frase en un cuaderno
La encontré algún tiempo después
Me pareció una buena idea para un poema
Lo escribí rápidamente
Lo que es raro
Luego me ocurrió que la frase anotada en el cuaderno
Parecía una cita
Pensé recordar que la había copiado de un poema
Pensé recordar que leí el poema en una revista
Busqué en todas las revistas
Son muchas
No encontré
Pensé: si yo no hubiese recordado que la frase no era mía
¿Ella sería mía?
Pensé: ¿es un plagio si nadie lo nota?
Pensé: ¿debo librarme del poema?
Pensé: ¿es un poema tan bueno así?
Pensé: palabras cambian de piel, tanto robé por amor, en cuantos y cuántos libros ya leí
historias sobre nosotros dos
Pensé: ni era un poema tan bueno así
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(poemas en su idioma original, portugués)
5 poemas da O livro das semelhanças (2015),
do Ana Martins
Dedicatória
Ainda que não te fossem dedicadas
todas as palavras nos livros
pareciam escritas para você.
Primeiro poema
O primeiro verso é o mais difícil
o leitor está à porta
não sabe ainda se entra
ou só espia
se se lança ao livro
ou finalmente encara
o dia
o dia: contas a pagar
correspondência atrasada
congestionamentos
xícaras sujas
aqui ao menos não encontrarás,
leitor,
xícaras sujas
Tradução
Este poema
em outra língua
seria outro poema
um relógio atrasado
que marca a hora certa
de algum outro lugar
uma criança que inventa
uma língua só para falar
com outra criança
uma casa de montanha
reconstruída sobre a praia
corroída pouco a pouco pela presença do mar
o importante é que
num determinado ponto
os poemas fiquem emparelhados
como em certos problemas de física
de velhos livros escolares
Não sei fazer poemas sobre gatos
Não sei gatografia.
Ana Cristina Cesar
Não sei fazer poemas sobre gatos
se tento logo fogem
furtivas
as palavras
soltam-se ou
saltam
não capturam do gato
nem a cauda
sobre a mesa
quieta e quente
a folha recém-impressa
página branca com manchas negras:
eis o meu poema sobre gatos
Boa ideia para um poema
Anotei uma frase num caderno
encontrei-a algum tempo depois
pareceu-me uma boa ideia para um poema
escrevi-o rapidamente
o que é raro
logo depois me ocorreu que a frase anotada no caderno
parecia uma citação
pensei me lembrar que a copiara de um poema
pensei me lembrar que lera o poema numa revista
procurei em todas as revistas
são muitas
não encontrei
pensei: se eu não tivesse me lembrado de que a frase não era minha
ela seria minha?
pensei: se eu me lembrasse onde li todas as frases que escrevi
alguma seria minha?
pensei: é um plágio se ninguém nota?
pensei: devo livrar-me do poema?
pensei: é um poema tão bom assim?
pensei: palavras trocam de pele, tanto roubei por amor, em quantos e quantos livros já li
histórias sobre nós dois
pensei: nem era um poema tão bom assim
*(Belo Horizonte-Brasil, 1977). Graduada en Letras y doctora en Literatura comparada por la Universidad Federal de Minas Gerais (Brasil). Se desempeña como redactora y revisora en la Asamblea Legislativa de Minas Gerais. Ganadora del Premio Biblioteca Nacional (2012). Ha publicado en poesía A vida submarina (2009), Da arte das armadilhas (2011), O livro das semelhanças (2015), Duas janelas (con Marcos Siscar, 2016) y Como se fosse a casa (uma correspondência) (con Eduardo Jorge, 2017).